14.5.09

your choice, your life

Tinha a certeza de que era impossível conhecer alguém por inteiro. Não existem pessoas que se entregam 100%, talvez o único caso cientificamente provado seja o de Romeu e Julieta, dizia tomando uma taça de vinho e fazendo careta. Entregar-se pra alguém requer uma intimidade tão grande que, pra que isso aconteça, você tem de deixar de ser você. É como se dissesse: desisto, motherfucker, pode me levar pra onde quiser. E convenhamos, numa época sinistra como a nossa todo mundo quer se afirmar, mostrar que pode fazer as coisas sozinho, ser dono de si – incluindo do coração -, e não fazer a donzela esperando que o gostosão semi-conhecido da academia, do trabalho ou da faculdade converse com você, o chame pra jantar, ligue no dia seguinte pedindo um novo encontro, transe com você na mesma noite e depois de um mês diga o famigerado quer namorar comigo? Pra começo de conversa, ele é homo? Talvez isso ocorra, mas continua sendo a exceção. Pois é, então o que fazer?

Defendia que conhecer homens como seres humanos assexuados era uma boa idéia, ou seja, fingir que os homens interessantes não tinham pinto, coxas nem braços. Basicamente isso. Num é que viado superestima o sexo, menina?, concordavam suas amigas lésbicas. Seria bom mostrar-se um ser humano centrado, digno, correto e limpinho quando conhecesse algum cara que tivesse o mínimo de apelo sexual, mas nunca, nunca tremer ou engasgar diante dele, porque aí já está estabelecida uma relação de superioridade em uma porra de relacionamento que nunca começou. E quem se entregar primeiro, perde.

Já tinha passado por quatro namoros, e todos acabaram do mesmo jeito: quando ele descobriu que não sabia com quem namorava. As pessoas se entregam até onde é conveniente pra elas, depois de certo ponto sua entrada não é permitida. Ai quando você passa, ou elas deixam a portinha um pouco aberta, descobre alguém com quem nunca se relacionou. Então acaba.

E por incrível que pareça, quanto mais velho ficava, menos se importava em ouvir EU TE AMO. Isso porque tinha certeza que não sabia o motivo exato pelo qual diziam essas palavras pra ele, se era verdade ou necessidade do outro cara em se tornar algum dos bilhões de personagens do cinema e novela e teatro e literatura que já disseram a frase que está grudada no inconsciente coletivo. Acreditava tanto no poder do auto-engano que pra ele as pessoas nunca eram elas mesmas, sempre utilizavam máscaras e frases de efeito pra se mostrarem mais interessantes na tentativa de enganar... ou outros; na hora da “conquista” então, Deus me livre; mas todas não passavam de um monte de carbono. Então, meu querido, o que nos resta? Amar outras coisas ou chafurdar na ignorância?