11.1.11

homoleaks

O casal foi a um restaurante no final de semana, aqueles com decoração “rústica” quase, eu disse quase cafona, que na verdade parece uma grande área pra churrasco com suas mesas de madeira e telhado alto. Ok, tudo ia bem quando chegou a hora de tirar a salada. Um deles foi e o outro ficou. Enquanto nosso personagem escolhia qual palmito colocaria no prato, olha pro lado e vê um cara com seus 40 anos e cabelo grisalho, bonito até, porém com o mal típico das pessoas que têm condições mas não bom gosto, e insistem em vestir aquela camisa de time de futebol horrorosa. O grisalho também olha pra ele, e por um instante mostra-se constrangido e desconfortável. Poderia sentir-se naturalmente surpreso, mas este não era definitivamente o caso. Olá. Beleza?, respondeu o outro, que foi logo se retirando da mesa de frios como se estivesse com uma dor de barriga inesperada. Sim, eles já se conheciam. E de uma forma como muitas pessoas, mais especificamente os homos atuais se conhecem: na pegação. Pra ser mais exato, há cerca 5 anos eles se viram pela primeira vez, no banheiro de um shopping da cidade muito bem freqüentado por homens casados que batem punheta pra outros caras enquanto suas mulheres gastam seu cartão de crédito comprando bolsas que nunca usarão. Eles haviam se encontrado muitas vezes naquele banheiro por acaso, e até conversaram lá dentro, por isso era impossível esquecer a cara um do outro. Mas então o assustado voltou pro seu lugar, enquanto o outro acabava de servir a salada. A causa de tanto nervosismo já seria explicada. A algumas mesas à frente, tinha uma visão privilegiada de toda a cena: o grisalho estava com mulher, sogra, um outro cara e dois filhos em suas respectivas cadeirinhas, ambos com menos de 3 anos, gêmeos. Que coisa, pensou ele, tenho que assistir a essa palhaçada de camarote? Sim, mas no final das contas até que se divertiu. O showzinho consistia no seguinte: a cara de constipada da sogra loira que era uma delícia de admirar (à distância); a mulher que esbravejava e parecia nervosa fazia o papel da mãe neurótica e nojenta que sempre acha que está certa (na falta de uma melhor descrição, uma mulher moderna); o bobão ao lado brincava sorridente com as crianças porque provavelmente não tinha seus próprios filhos; e o pai, ah o pai, alternando olhares pros dois filhos menores, pra mulher neurótica e pro seu prato enquanto comia ansiosamente uma folha de alface. Assim que acabou, fez questão de levar as crianças pro “parquinho” do restaurante, onde outros pais idiotas que demonstravam um sentimentalismo e carinho baratos carregavam seus filhos pra cima do escorregador e os esperavam descer, quando não ficavam agarrados no meio do caminho. Enfim, uma cena digna de Manoel Carlos. Tudo muito bonito, como deve ser. E tudo isso presenciado por um homo quase desconhecido que conhecia alguns dos segredos daquele grisalho. Ele até sentiu vontade de subir em uma mesa e gritar pra todos no recinto: senhores, vocês estão vendo aquele pai de família? Pois ele já chupou meu pau num banheiro público!!!!, só pra ver a cara da mulher, da sogra, e dele, obviamente. Melhor ainda seria gravar e colocar no Youtube. 1.000.000 de acessos.  Mas não, não valia a pena. Pronto, se era isso que aquele homo encubado queria – ser como a maioria dos homens de sua idade, casado, com filhos e com uma sogra detestável –, ele conseguiu. Ir ao restaurante no final de semana e nunca ter tempo pra comer sossegado, porque as crianças não deixam. Ponto pra ele. Se misturar à massa de pessoas que não respeitam seus desejos, aquele tipo mais baixo que não dá valor nem ao próprio prazer. Muito bem. No meio daquele monte de gente, era só mais um pai com dois filhos pra criar, não se destacava aos olhos de um observador comum. Só que, meu caro, desde quando viado é homem comum? E o mais gostoso disso tudo, enfim, é que por essas e outras é muito bom ser homo: às vezes você se sente uma testemunha ocular de existências medíocres e covardes, sabe coisas que se contar pra outros ninguém acredita, presencia situações inusitadas que poderiam muito bem ser compiladas em um livro chamado “Histórias Insólitas”, conhece casos e coincidências muito mais interessantes do que quaisquer outros contados numa mesa de bar ou reunião de família, e ainda pode rir disso tudo. Ou estragar a vida de alguém. Não é o máximo? O homo moderno que passa por situações deste tipo pode se vangloriar, pois afinal é um arquivo secreto vivo! Vamos começar a cobrar pra manter a boca fechada?