
Preciso de um desconhecido que me dê valor. A ideia era ser desejado por um estranho, exatamente do que ele precisava no momento. Chega de receber elogios de conhecidos, eles querem ser legais e mentem, estão no seu direito, e não ligo para o que pensam.
Queria sair na rua, chamar atenção, ser convidado a dar um passeio por um gostosão que estivesse parado no semáforo, ser reconhecido como exemplo de homem atraente e, por que não, alguém que sabe se vestir. Não se importava em ser belo, e sim atraente, por isso treinava o olhar no espelho todos os dias antes de dormir. Fantasiava situações na rua, no trabalho, no shopping, no trânsito.
Até que o espelho era generoso, mas o problema ocorria quando se comparava aos outros, justamente os desconhecidos. Todos, absolutamente todos eram mais atraentes que ele. Precisava ouvir deles que dava pro gasto, ser considerado um objeto sexual. Cada um com os seus problemas, o dele era atenção demais pra si, reconhecimento da sua pequenez em relação aos homens da rua, aqueles que queria amarrar por um instante.
Lá na rua é que não dá, em casa tá tudo ótimo. Percebeu o erro fatal, enganava-se o tempo todo sem saber: afinal, o espelho do quarto também era seu amigo! E opinião de amigo não vale.