Mr. Not That Average Brazilian Homo chegava ao restaurante e pedia, ora como um lord inglês, ora como um junkie sueco, a dose dupla de martini. Olhava pela janela o mato lá fora, que dependendo do dia e do seu humor era considerado uma "reserva de floresta tropical de altitude quase intocada nos arredores da cidade" ou um "mato cheio de mosquitos de onde dá pra ouvir os carros passando lá na estrada". No rádio, Antena 1, claro, apesar de todos os frequentadores daquele lugar parecerem levar suas famílias e esposas pro carnaval de Salvador, andar em lanchas alugadas e colocar as fotos no orkut. Enquanto a bebida não chegava, via-se no reflexo embaçado da tv de plasma pendurada logo a frente, ao lado dela bandeirinhas brasileiras idiotas escritas "Rumo ao Hexa!". Tava ali sozinho porque, apesar de dizer coisas belas e perturbadoras no bom sentido para alguns, tinha seus rompantes de cadê minha taça de champagne, seu escroto, e também porque gostava de torturar psicologicamente seus sobrinhos nas horas vagas mostrando fotos de homens se beijando. Eles voltavam atordoados pros seus pais e empurravam a cabeça deles em direção a de outro homem, geralmente o tio de pinto pequeno e careca, numa cena muito Família Addams. Ou seja, ele era mau, mau. O martini aparecia e ele olhava torto pro garçom, só que desta vez não foi torto e sim muito direto pois quem o servia era um gatão da meia idade com monocelha e brinquinho comprado numa feira hippie qualquer. Deu aquela piscadinha e levantou taça, como se dissesse sente aqui e vamos conversar, pode ser legal. Como o restaurante era próximo a uma estrada pequena mas movimentada e cheia de curvas, sua atenção foi desviada pelo SAMU que passava no radar à 80km/h em direção, possivelmente, à uma alma penada. O garçom foi embora. Merda. Olhou as unhas bem cuidadas e o relógio semi-novo e pensou, caralho meu salário está acabando, tenho que economizar pra sauna. Entrou no recinto logo em seguida à passagem da ambulância um loirinho lá pelos 28,30 anos com uma piriguete loira do pentelho preto à tira-colo, e disse quase em voz alta se eu fosse mulher daria todo dia pra um homem diferente, faria uma listinha grande o suficiente pra, quando retornasse ao primeiro, ser quase esquecida por quem me comeu. E aí, tcharam!, vambora fuder, gato?? Mr. Not That Average também tinha certo conhecimento de alquimia, filosofias pagãs, física nuclear e domínio total sobre a temática e crítica social por trás de Glee. Nas horas certas, e nas nem tão certas assim, falava alto com um jeito de criança mimada que acabou de ganhar um ovo de Páscoa com brinquedo, mas que depois de aberto descobria dentro dele um aviãozinho fuleiro montado no estilo 14 bis. Não! O que fiz pra merecer isso, revoltava-se ele quando o assunto passava das suas piadinhas para o campeonato de futebol ou pior, para a Copa do Mundo. Seu bife corpulento na mesa, tipo aquelas bistecas que aparecem no Tom e Jerry. Mais vinho, mais batata frita, mais bife, mais olhares tortos, mais risinhos nervosos. Tava doido pra começar as aulas de filosofia zen-budista logo na semana seguinte, pois apesar de tudo não aguentava mais ouvir de seus amigos e amantes "mostre o que você tem de pior, baby", e pensava acho que vou com a roupa... quando foi interrompido pelo namorado dizendo: amor, qual vai ser a sobremesa? Voltou à sua órbita nada estelar, de frente pra tv que passava o dvd dos engenheiros-do-rauai e pra vibe concretista-brasileira pré Copa e, ao olhar pro lado, percebeu um pêlo gigante saindo do nariz do namorido, e teve uma enorme vontade de arrancá-lo ali mesmo na frente do garçom da monocelha. Sentiu tesão por aquele homem mais velho e centrado ao seu lado, e por um momento percebeu: não, não estou sozinho. Peti gateu.
trust is like a mirror, you can fix it if it's broken, but you can still see the crack
in that motherfucker's reflection