8.1.10

negar um desejo é o cúmulo da hipocrisia

A sociedade é hipócrita, já se sabe. Os gays fazem parte da sociedade. Logo, os gays são hipócritas. Eles nascem achando que o certo é gostar de mulher, mas têm sonhos eróticos com homens. Negam num primeiro momento seu desejo por pessoas do mesmo sexo, e até tentam ficar com umas garotinhas lá pela 8ª série. Na faculdade fazem cursos de macho: biblioteconomia, pedagogia e enfermagem estão longe disso. Devem ser engenheiros, médicos ou advogados. Entram pra academia pra parecer mais másculos, bombas de testosterona, escondendo assim suas bichisses e inseguranças, típicos dos gays (homens héteros não têm esse tipo de coisa, claro, pois resolvem tudo na força). Os que casam com mulher, pensam que com o tempo seu tesão irá diminuir, ao verem seus lindos filhos crescerem. Muitos são tentados a largar a família e viver uma vida digna (pelo menos pra si mesmo), mas têm medo da reação de suas famílias e preferem jogar futebol no final de semana e dar aquela olhada pro pau do amigão no vestiário. Ao menos isso. Ou então saem escondidos e pagam por sexo. Sem beijo na boca, pois isso é coisa de viado. Pensam assim porque esquecem: pra todo gay que dá, existe outro que come. Os gays solteiros convictos adoram trepar com desconhecidos gostosos, mas preferem dormir sozinhos, pois são auto-suficientes. À noite, saem para caçar (veados, claro), voltam de mãos vazias e tomam café na padaria ao amanhecer. Ouvem e dançam Mariah no quarto, mas pros amigos afirmam que a odeiam. Todos os freqüentadores de sites de relacionamento exibem seus músculos bem torneados, o sonho de consumo de 10 entre 10 homodernos, e querem fuder caras machos e discretos. Aqueles que pensam em casar ou pelo menos namorar, querem alguém parecido com o primeiro amor platônico masculino de suas vidas, um pouquinho mais musculoso, obviamente. Pele boa, sorriso branco, cabelo arrumado, mãos grossas, pau grande, jeitão de macho que ninguém desconfia: a perfeição. E o tempo passa, passa, passa, passa... no final de quase tudo, às vezes tarde demais, os homodernos percebem que o mais importante de tudo é se sentir feliz, não necessariamente saciado. Onde foi enterrada a minha felicidade? Consegui o que queria, não o que precisava. Aprenderam a admirar corpos que nunca serão deles, pessoas que jogam no outro time, casados e com filhos. Nunca seus pares. Os interessados no amor, os casais realmente apaixonados, poderiam muito bem ser seus tios carecas e barrigudos. E são. Os homodernos, infelizmente, também fazem parte da sociedade cujo desejo foi ditatorialmente construído por poucos. Eles só seguem o ritmo, cantam o refrão. A educação do olhar, reforçada pelos meios de comunicação, só piorou as coisas. O difícil é arrancar o belo da aparente esquisitice. Todos esquecemos: satisfação não é igual a felicidade.