7.10.09

take it down

E ele, não muito adepto a surpresas, foi inexplicavelmente arrebatado por uma. Somos mesmo pecinhas deste enorme quebra-cabeça chamado destino. A surpresa tinha forma, conteúdo, figura: 1,90 m, corpo elegante, coxas homéricas, boca convidativa, sorriso lateral, educação ímpar, ar blasé, era mestrando em filosofia (!!!) e forasteiro, vindo das partes mais altas desse país. Explicações suficientes.

Now nothing's how it used to be.

Guiando-se pelos sentidos, unicamente, ele foi atrás. Diria Descartes que se confiamos demais neles, acabamos incorrendo em erro. Da teoria pra prática, tornou-se o próprio objeto de estudo. Mas desta vez não ligava pra isso, eram desconhecidos até então, não era hora de tirar dúvidas, apesar de sempre ter feito esforços pra parecer consciente de tudo.

Got me affected
spun me 180 degrees
it's so electric.

Num quartinho qualquer daquela cidade, dois exemplares do sexo masculino se entregam aos mais primitivos instintos. Membros [ainda] encobertos se tocam fazendo com que ambos emitam sons guturais, longos, onde cada um perde sua identidade, a descobre, e depois a perde novamente. Em meio a respirações ofegantes, beijos arrebatadores, mãos que vão e vêm, saliva pra todos os lados, mordidas e apertos contra a parede, tiram a roupa. Pra que pressa, se o mundo é nosso. Pelo menos agora. Desligam o celular. Neste exato momento a vida não tolera ficção.

Don't wanna rush it
let the rhythm pull you in
it's here so touch it.

Enfiando a mão dentro da calça, assim sem pedir licença, ele sente. A autorização é dada somente pelo olhar. Segue desabotoando a camisa bem passada, vagarosamente, sem perder nenhum detalhe do peito que vai aparecendo aos poucos. As mãos se encontram nas costas um do outro, unhas arranhando a pele daquele homem centímetro a sua frente. Mais beijos, a boca quente, úmida, aberta, pronta. A cabeça tomada nas mãos, olhos que se encaram. Ele retira o cinto, abre a calça.

Take it down, down.

Debaixo da cueca preta está lá, o membro rijo e virado pra esquerda. Tocá-lo é inevitável. Mais gemido, mais língua, mais pescoço. Caindo sobre a cama, um sente o peso do outro. Ficam mais de uma hora fazendo sexo, gemendo, sussurrando, lambendo, sentido o cheiro de suor, entregues a própria sorte. Rolam pra todos os lados, imobilizam pés e mãos. Se divertem feito crianças na beira da praia. Erram.

Ao final de tudo, quando é possível chegar a alguma espécie de pensamento, percebem o quão simples é tudo aquilo. E vital. Nada que exija muita elaboração, as coisas só devem se encaixar. Sentir o coração de alguém bater mais forte, por sua causa, a respiração entrecortada. Saber que cada gota de suor foi gerada por você, pra você. Cada estremecimento involuntário do corpo, o fechar dos olhos que permite maior concentração, a boca aberta como forma de ampliar os segundos. Ah, os sentidos. O sexo pode levar a morte, acabar com tudo. Não vivemos pra pensar, mas pensamos pra conseguir subsistir.

Acabou. Realmente, o sexo não foi feito pras pessoas que se amam, e sim para aquelas que amam sexo.