17.6.09

taxonomia

Ah, esqueci, vocês sofrem aquele processo de evolução, disse a amiga entre risos. Sim, os gays não são todos iguais em seu grau de viadagem... Se isso ocorre com qualquer um, com a gente é pior ainda. Falavam a respeito de como a espécie homona tinha tantas particularidades, subespécies, famílias, classes, ordens, etc, enfim, uma rica diversidade e tantas dessemelhanças. Muitas vezes indivíduos em estágios evolutivos diferentes não se dão bem, infelizmente. Taí, tinha acabado de inventar a ‘teoria taxonômica de relacionamentos homo-qualquer-coisa’, que iria explorar mais tarde em seu mestrado e doutorado e pós-doutorado e qualquer outra graduação que faz a gente se sentir tão inteligente como uma bactéria.


Desde a primeira punhetinha inconsciente em homenagem a algum ator pornô hétero, até o dia em que você sai de casa com uma camisa I heart COCK, é um longo caminho... Quantos relacionamentos acabavam porque os dois não estavam na mesma ‘sintonia’, um escutava Jovem Pan e o outro CBN? Muitos! Quantas vezes o seu casinho queria passar as férias de dezembro ajudando as vitimas das enchentes e você só pensava em ir pra praia? Refletia nosso pós-doutor balançando a cabeça com pena dos pobres coitados repetidores de frases do tipo você é demais pra mim, eu não te mereço, não rolou química, eu sou passivo, cheguei primeiro!, e dos ouvintes também.


Relembrava seus idos tempos de buatchy quando viu um grupo de beyoncé wannabees rir feito um bando de hienas do menininho novo, macho como elas jamais ousariam ser, mas assustado e curioso com o lugar – um novato, afinal – , que acabou acuado no canto do darkroom e foi vítima da elza arquitetada pelo grupo meliante. E os casos de incompatibilidade evolutiva eram infinitos, do assumido que só ficava com quem já tivesse destruído o armário, do casado querendo um brother macho pra sexo casual e SIGILOSO, do gay discreto musculoso frequentador de saunas e cinemas à procura de submissos dispostos a realizar seus desejos mais profundos, do frequentador engravatado daquele barzinho no fim da noite tentando convencer o garçom a dar uma chupadinha depois do expediente, do coroa maduro gostoso grisalho querendo relacionamento sério, pois afinal de contas ninguém quer nada com nada, dos interessados em fuder dentro do próprio carro em oposição aos frequentadores da suíte marroquina do motel mais caro da cidade.


Enfim, em seus trabalhos científicos, num dos quais optou pela sugestiva epígrafe Welcome to the jungle, sha na na na na na na na na na na..., nosso pós-doutor analisava a complexidade – pra não dizer bagunça – dos relacionamentos gays contemporâneos que não davam certo, seu caro objeto de estudo, e estava pra concluir a falência de sua teoria iniciada anos atrás, pois certas coisas eram impossíveis de apreender, não dou conta.


Mas, peraí, faltava esclarecer uma coisa... o senhor não está reforçando estereótipos e preconceitos com seus estudos mirabolantes, ao estabelecer escalas evolutivas entre nós? Como pode ter tanta audácia? , perguntou um ávido estudante certa vez numa palestra. Já cansado, porém sem tirar o sorriso do rosto, respondia pela última vez: Não, ao contrário, só procurei entender porque alguns individuos consideram-se tão diferentes de mim pelo fato de terem dado o cu mais vezes que eu.