O ideal de beleza e felicidade, culturalmente construído pelas sociedades, faz feliz alguns poucos e mata de desgosto o restante. Há 30 anos a academia era circunscrita à universidade. Hoje já é outra, lotada de ratos infelizes com o próprio corpo, a própria aparência, com o tamanho do seu braço. Olha só, dizia esboçando um sorriso irônico, a indústria cultural nos diz o que é belo, aceitável, aquilo que vai te trazer felicidade. Todo mundo acredita e pronto! Eis aí uma sociedade infeliz. Mas, que importa? O interessante não é o destino, e sim a viagem, certo? Somos educados a acreditar que sim. Por isso tentamos, tentamos, tentamos.
O ideal se fortalece, torna-se ainda mais inatingível, quando nos demos conta de que estamos longe dele. Somos imperfeitos, mas se eles podem eu também posso! Vaquinhas de presépio, todos ensinados a crer que seremos, um dia, reconhecidos. Um dia.
Vampiros marketeiros dão vida à ideias mirabolantes, cheias de corpos, carros e condutas sinuosos, enquanto enganam a população miserável e ávida pelo bem-estar e beleza que as possam retirar de sua vida fétida e miserável. Quem aparece sem camisa na tv: o gostosão, nunca o “normal”. Aliás, o novo normal é o gostosão. Dentes brancos e alinhados sorriem para o nada, enquanto aos seus espectadores falta dinheiro pra uma pasta dental. O gordo do domingo mostra que conhece a Itália e um tal de Pepino di Capri, enquanto que sua audiência nunca comeu um pepino de verdade, e ouve a Gaiola das Popozudas.
Mas não é isso que move o mundo, o desejo? Perguntaram pra ele. E respondia, desejo ou simulação dele?
Corpos musculosos estampam capas de revista, demonstrando que aquele produto pode ser adquirido – pelos iluminados, claro – dentro de poucos meses, com algumas bombas e muita disciplina. Certo, de disciplina nós entendemos. Tente.
E a gente não aceita namorar barrigudo, baixinho, alto demais, dentuço, espinhento, torto, careca, pouco dotado. Desajeitado, porém interessante? Passo. Podre por dentro, lindo por fora? Ok. Quantas vezes já dispensamos ex-futuros amigos, amantes, namorados, por causa da burrice com a qual aprendemos a conviver, que já faz parte do nosso ser, mas que não é nem nunca foi nossa? Dá-lhe preconceito.
Não, meu caro, eles ensinaram a gente a ser burros, a gostar do branquinho de olho azul, a ver beleza naquilo que ELES consideram belo, a comprar os produtos deles, que irão trazer nossa felicidade. Temos insônia, mas pelo menos o carro está na garagem. Se você não conseguiu ser feliz, tente outra vez, até morrer seco. Mas que fique bem claro, eles tentaram te ajudar.

