25.3.09

procura-se

A nossa história de hoje, criançada, é sobre alguém que se amava muuuuuito!!!

Ele se achava inteligente, esperto acima da média. Gay elitizado, por assim dizer. Frequentava as festinhas mais badaladas da cidade, viajava o país atrás do DJ idolatrado. Ia à todas as Paradas Gays pra se mostrar lindo e fechativo. Era tão auto-suficiente que não pedia desculpas, batia punheta na frente do espelho. Ah, como o espelho podia ser traiçoeiro...

Detestava tudo que não lhe era esteticamente interessante, aquilo que não lhe dava prazer imediato era descartado. Nem queria saber de criar laços amorosos, fraternais, com ele era tudo do jeito como deveria ser, pois sempre tem quem manda e quem obedece. Suas amigas pensavam o mesmo. Com a desculpa de que vivemos no mundo moderno, tinha certeza de que as coisas são assim mesmo, bicha. Assim mesmo como? Nem sabia explicar, só tinha ouvido falar.

Adorava ir ao shopping comer sanduíche, tomar sorvete, comprar no cartão roupinhas de marca. Na fila da buatchy usava sua baby-look com o A / X gritando na parte de trás do pescoço, e ficava imaginando a pão-com-ovo logo depois, morrendo de inveja, claro. Sapatos sempre novos, mesmo com algumas meias furadas.

Passava horas e horas na academia, fazia um pacotão que incluía malhação, aeróbica, natação. Saúde é consequência, eu quero é me manter pegável. Tenho que aparecer bunita nos meus sites de relacionamento. Só procurava por dotados, lindos e machos que não queriam se envolver emocionalmente. Menos de 20 cm não dá. Tinha pavor, mas pavor mesmo do carinha da academia que exibia uma cicatriz no braço devido a um acidente de percurso. Barriguinha então nem se fala. Quem tinha dente torto passava longe dele. Sua educação sexual foi erguida à base de muito filme pornô, estrelando corpos belíssimos, cabelos esvoaçantes, sorrisos perfeitos e peles bronzeadas, paus enormes escolhidos a dedo (ou a dote), músculos extravagantes, cus lisinhos. Gongava a tudo e todos.

Ia pra casa depois do trabalho se interar das novidades fashion, o que tava in e out na estação. Revistas com musculosos vendendo o que mesmo? ah, sim, sungas e relógios e colares e calças e cuecas e perfumes e blusas e óculos e sapatos. Pensava em ir a Nova York nas próximas férias, dar uma de Carrie e pegar uns bofes por lá. Tinha uma outra vida na internet, amigos mil - virtuais -, e gostava mesmo de se exibir. Quero morrer lindo, e não sentia vergonha em ficar velho (fazia alguma diferença?), e sim em ficar feio.

Queria ser influente e ser entrevistado pela Marília Gabriela, que num dos sonhos disse: o que você acha da analogia

bicha over pós-moderna, vítima da indústria do lifestyle gay = o viado do século XXI?

Acordou sobressaltado, foi pegar um remedinho pra insônia.

FIM