6.3.09

a vida não pára

Minha avó teve o seu casamento arranjado. Arrumado, combinado entre os pais dela e os do noivo. Ela nunca havia visto o seu futuro marido antes de casar. Foi obrigada a dar pra um cara que mal conhecia. Fiquei chocado ao saber, logo eu que acredito tanto no amor.

Conhecer um pouco da vida dos nossos antepassados é angustiante. Nem sempre - ou quase nunca - a vida é acertada, correta, digna ou o diabo a quatro, enfim do jeito que a gente sempre sonha. Quem disse que a família é a "base de tudo" pensava no presente, mas aquilo que herdamos inconcientemente também influencia, e muito, nas nossas vidas.

Alguns afirmam que existe uma carga, como diria, sentimental? ou invisível? com a qual a gente nasce sem saber, mas que remonta de anos e anos atrás. Seu espírito aventureiro pode ser um resquício de um tataravó bandeirante que você nunca conheceu. Sua ousadia teve início com o avó inventor do cotonete.

Onde será que está enterrado o cara que forçou o seu filho a casar com a minha avó, que eu nunca conheci? Terá ele [o pai] casado também por obrigação? Quem sabe minha avó não seria uma solteirona feminista que lutasse pela libertação das mulheres desse tipo de contrato caso se recusasse a se entregar pro homem que escolheram pra ela? Não faço a mínima ideia, sei que gente só dá problema mesmo, a raça humana é muito mais podre do que possamos imaginar.

Agora eu tenho a quem culpar quando não entendo certas coisas que acontecem, porque nasci assim ou assado. No meu caso, uma coisa que começou errada há anos atrás tem seus efeitos até hoje. Sinto culpa e pena por ela, minha avó com a qual nunca pude conversar. Minha mãe nasceu desse casamento, e eu nasci dela. O quão errôneo foi o casamento dos meus pais não sei afirmar, talvez possa dizer daqui a alguns anos.

E hoje estou aqui, vivo, meus antepassados mortos, os responsáveis pelo casório também. Nunca imaginei que um erro praticado por mim hoje possa influenciar gerações que estão por vir. Talvez por isso eu tenha nascido gay, revoltado desde o útero, pelo menos não casarei com mulher tampouco colocarei um filho no mundo partindo de um erro, casando por interesse ou forçosamente.

É na mesquinez da vida que a própria se multiplica.