2.3.09

fazendo a dorothy

A vaquinha olha pro garoto com seu jeito de eu sou puro buceta power, aquele ar de classe média imitando protagonista de novela, mas não dá certo. Todos os lugares podem ser considerados bons pra começar uma pegação, desde que as pessoas estejam afim: atrás da igreja acontece coisas que até o padre duvida. Mas então a mulher procura jogar seu charme inexistente pra cima do rapaz, força situações ridículas pra conversarem sobre coisas ridículas, dá risadas que qualquer pessoa com inteligência mínima perceberia como algo tanto afetado, passa muito perfume antes de sair pra ter a certeza de que irá deixar um rastro pro bofe sentir, mas nada adianta.

Ele, passivo, continuava a trabalhar no seu primeiro emprego totalmente dedicado, exceto quando desviava o olhar pro outro lado da sala, onde um dos chefes do setor ficava em frente a uma mesa cheia de papéis. Ele queria ir pra lá, ficar mais perto daquele homem com cara de bravo, sobrancelhas grossas, lábios finos e barba de 2 dias. Em seus devaneios era sempre perturbado por uma moça grotesca que se fazia de distinta, passava um perfume horrível e tinha uma risada tenebrosa que lembrava a da sua tia da quarta série. Evitava olhar pra ela porque conhecia aquele tipo: carente que não pode ver alguém que lhe dirige o olhar, senão apaixona. Pensando bem, ele era assim também. Torcia pro chefe dar uma olhadinha a mais pra ele, chamá-lo pra explicar alguma coisa após o expediente, etc, e morria de tesão só de pensar em ficar a sós com ele depois de todos terem ido embora.

Mas não ia rolar, sabia disso. Apesar de sua pouca idade, reconhecia que o papel de viado sonhador não lhe caía bem, melhor deixar pra Dorothy, a menina insossa que queria comê-lo. Uma das coisas que gay mais faz é fantasiar: com um mundo melhor, cheio de pessoas interessantes, com poucas mulheres, namorar um cara gatíssimo, realizar todas as suas fantasias eróticas. Esse mundo tava distante, mas quem sabe na próxima geração seria tudo melhor, não é mesmo? Avante, diz o filósofo, pense que hoje você partilha experiências de que os homens de uma época futura talvez tenham de se privar. Isso ele disse há mais de 100 anos.