10.12.10

quanto vale a sua corrupção

Ele não aparentava a idade que tinha. Jovem de rosto e corpo, mente incrivelmente sã, parecia aquelas pessoas que têm algo a mais não identificável. Seus 1,80m, cabelos castanhos, barba por fazer, olhar sedutor, ingênuo e intrigante, queixo quadrado e mandíbula proporcional ao rosto, tudo isso fazia dele um ser diferente.

Quando todo mundo quer uma coisa, quem aparece com ela torna-se uma espécie de divindade terrena. Era celebrado por sua esperteza e inteligência, recebia elogios tanto do mais feio como do mais bonito. Isso é raro, pois são geralmente as pessoas mais feias que se apaixonam por nós mais facilmente. Pense você: quantas vezes o lindo-gostoso-tesão te deu bola? Agora quantos horrorosos conheceram você e caíram de amores? A gente quer sempre estar perto dos mais bonitos. DEAL WITH IT.

Pois bem, ele era inteligente o suficiente para estar fazendo seu doutorado, e certamente iria publicar mais um livro ainda naquele ano. Era visto nas rodinhas VIPs da cidade, adorava experimentar a maioria dos drinks em bares escuros e bem decorados freqüentados por caras dos 30 a 40 anos que se acham donos do mundo e compram roupa na Zak, mas também sentia um prazer mórbido em dormir na sarjeta de vez em quando, só pra variar. A vida é ótima quando você desce um degrau, mas pode subir outros dois quando quiser. Aquela sensação de eu não pertenço a esse lugar, na verdade sou superior a tudo isso, e volto pro meu castelo quando me der vontade sem olhar pra trás era uma espécie de liberdade associada a um alto risco de ser corrompido. Uma corrupção que poderia, na verdade, colocar algumas de suas aquisições em perigo.

Testava-se a todo momento, e justamente por isso aprendeu a relativizar tudo o que tinha, sabia, experimentava. Nada vale tanto como a gente imagina. Tentar impor seus valores a outros é uma perda de tempo, ninguém se preocupa com eles. Se assim fosse, ninguém faria merda na vida, era só seguir a cartilha.

Então ele perseguia aquilo que chamava sua atenção no momento, nunca sem esquecer da possibilidade de mudança de planos. Era isso que o mantinha jovem, a possibilidade do erro. E por isso era admirado pelas pessoas mais covardes que ele. Na cultura ocidental, o erro foi completamente desumanizado, tornado bestial. Na verdade, concordava, o erro é uma das poucas coisas que nos permite afirmar sem hesitação: você é humano, e talvez vai morrer sem aprender bosta nenhuma.