- Em que mundo você vive?
- No meu.
- Tipo assim, tem lugar pra mim aí?
- Vou pensar. Se bem que a cerquinha da minha Neverland tá enferrujada...
- Legal, só fazer uma força que a gente entra.
- Aham.
- Quem diria, hein, naquele dia improvável...
- Estranho, parecia um filme do Lynch. Choveu ao meio-dia. Nada tava fazendo sentido, haha.
- E quem disse que precisa ter sentido?
- Pois é. Pensava o mesmo até que vi o gatcheenho mexendo no celular. Truque?
- Claro, e ainda acha que o contrário acontece?
- Atualmente, parece que não, haha. Celular serve mais pra fingir que está sendo usado.
- E esse aparelho nos dentes? Me sinto em 1998.
- Atrapalha?
- Não, é lindo. Mas já sei que o cabelo não é pra mexer, certo?
- Certíssimo. Até atingirmos o mínimo de intimidade.
- Ok, cabelo e carteira são duas coisas muito pessoais.
- E esse pelinho gritando na camisa, charme, desleixo, falta de tempo pra tirar?
- Os três.
- Você tem cara de menino criado com avó.
- Sim. Como soube?
- Camisa pra dentro da calça. Tá na hora de tirar.
Beijo, orelha, mordida, mãos pra cima, pra baixo, pra dentro. Cabelo desarrumado.
A insustentável leveza de um corpo sobre outro.