14.6.10

foi fondo

- Em que mundo você vive?

- No meu.

- Tipo assim, tem lugar pra mim aí?

- Vou pensar. Se bem que a cerquinha da minha Neverland tá enferrujada...

- Legal, só fazer uma força que a gente entra.

- Aham.

- Quem diria, hein, naquele dia improvável...

- Estranho, parecia um filme do Lynch. Choveu ao meio-dia. Nada tava fazendo sentido, haha.

- E quem disse que precisa ter sentido?

- Pois é. Pensava o mesmo até que vi o gatcheenho mexendo no celular. Truque?

- Claro, e ainda acha que o contrário acontece?

- Atualmente, parece que não, haha. Celular serve mais pra fingir que está sendo usado.

- E esse aparelho nos dentes? Me sinto em 1998.

- Atrapalha?

- Não, é lindo. Mas já sei que o cabelo não é pra mexer, certo?

- Certíssimo. Até atingirmos o mínimo de intimidade.

- Ok, cabelo e carteira são duas coisas muito pessoais.

- E esse pelinho gritando na camisa, charme, desleixo, falta de tempo pra tirar?

- Os três.

- Você tem cara de menino criado com avó.

- Sim. Como soube?

- Camisa pra dentro da calça. Tá na hora de tirar.



Beijo, orelha, mordida, mãos pra cima, pra baixo, pra dentro. Cabelo desarrumado.

A insustentável leveza de um corpo sobre outro.