28.5.10

raio de luz

A lua iluminava a parte do quarto correspondente à fresta da janela aberta. Um corte tão claro que parecia dividir o espaço ao meio. Deitado na cama, seu corpo também era dividido pela claridade: acima do peito era um, abaixo, outro. E não é verdade? Coisa de virginiano querer dar sentido a tudo, ou de gente paranóica mesmo? Sabia de suas qualidades, mas também tinha plena consciência dos defeitos, aqueles que detestava nas pessoas parecidas com ele. Pra provar que você é um saco é só conversar com alguém do mesmo signo, é como um espelho falante. Talvez a gente goste tanto do espelho porque ele nunca emitiu opinião. Olhando pro céu, nada e tudo ao mesmo tempo, via a lua crescente claríssima, poucas nuvens, baixas e rarefeitas. Ao lado da lua não havia estrelas, pelo menos não conseguia vê-las. Mas elas estão lá. O frio entrava pela janela; deitado apenas com camiseta e cueca, sentia-se vivo por respirar e estar quente. Ouvia os últimos carros do dia passarem na rua, janelas se fechando, pessoas se despedindo. Pensava nele, no desconhecido. Pegou o mp3 player, direto na sua preferida, Madonna, Skin. À medida em que a Terra girava, a lua mudava de posição, bem como o facho de luz. Agora parte da sua perna podia ser vista com tanta nitidez que parecia dia, os pêlos um pouco arrepiados. Como é bom não entender certas coisas. A felicidade tem sua parcela de ignorância, tem horas que existir é a única saída pra gente lembrar o que somos: poeira estelar. A lua seguia seu caminho, enquanto o quarto parecia o negativo de um filme, o seu filme. Nothing Really Matters.