Só estranhos sabem foder estranhos, pensava enquanto colocava as compras no carrinho. Engraçado como algumas coisas se perdem à medida em que conhecemos mais e mais as pessoas, aquelas primeiríssimas impressões que temos no primeiro contato. É claro, outros sentimentos aparecem, como respeito, amizade, ódio, inveja, indiferença, admiração, mas muitos deles que nos impulsionavam no momento do contato são perdidos. Quantas coisas seriam tão mais bem aproveitadas se durassem o tempo certo, poderiam até deixar saudades... quando passam do limite, tornam-se insuportáveis e causam uma náusea irritante. Quem mandou confiar demais? Por isso, melhor seria se tudo estivesse às claras desde o início: perderíamos menos tempo. É hipócrita aquele que se considera como tal? Com ele, não há investigação possível, sua sinceridade é absurdamente verdadeira. Atoladas no próprio moralismo, as pessoas se esquecem de que até a amizade, esse belo sentimento, só existe entre duas pessoas que não se ameaçam. Vambora perguntar pro Hobbes. O inimigo é aquele que nos põe em perigo e pode nos revelar quando menos esperamos, destruir nosso ego. Quem se dispõe? Num namoro, por exemplo, o normal seria o tesão inicial se transformar em respeito, companheirismo, solidariedade, amizade, amor. Se não acontecer, não rolou? Quem tem ânimo pra chupar o maridão de 20 anos no banheiro do aeroporto? As coisas tomam rumos inesperados, e saber sua parcela de culpa nessa merda toda é puro autoconhecimento. Como também o é criar sua própria moral e ter a certeza de que ela irá mudar, ou seja, mais cedo ou mais tarde você será considerado o maior dos hipócritas já existentes.