18.3.10

separados por algumas tonalidades de rosa


Que preguiça... preferia não estar falando disso no blog, mas é inevitável. Aqui em BH criou-se uma polêmica envolvendo futebol e uniforme, especificamente em relação às novas camisas do Atlético Mineiro. Você poderia perguntar: é sobre o modelo? Não. Sobre o patrocinador? Também não. Claro, a polêmica toda se deu em torno da nova cor: rosa. Que nem é tão rosa assim.

Já sabemos de antemão que, brasileiro brasileiríssimo é aquele que jura de pé junto não ter preconceito, mas adora soltar uma piadinha reconfortante sobre as minorias para se sentir melhor; acha horrível ver casas sendo tomadas pela água no período das chuvas mas joga lixo na rua; é super a favor do transporte coletivo mas vai de carro todo dia pro trabalho; adora falar mal dos políticos e é facilmente corrompido no seu dia-a-dia; é mestre em apontar o erro dos outros tipo olha onde aquele carro tá estacionado!!!!, mas sempre tem uma desculpa pra fazer uma cagada no trânsito, etc, etc, etc, ad infinitum.

Nacionalismos à parte, voltemos à questão do uniforme. Devemos nos perguntar: qual o problema em o uniforme ser rosa, roxo, amarelo, salmão, o diabo a quatro? Não, esse não é o problema. Pergunte pra uma criança e ela não verá nada de errado. A questão é cultural: numa sociedade ocidental machista como a nossa o rosa sempre esteve ligado a mocinhas, mulherzinhas frágeis, moças que ainda não se tornaram mulheres de verdade blá blá blá e, em última instância, a nós: GAYS! Sempre sobra pra gente. Bom, isso é o que dizem. Eu mesmo não tenho nada rosa, nem conheço outros gays com fetiche por ela. E nem aí pros admiradores da cor.

Então, como de costume, o buraco é bem mais embaixo. A questão do uniforme não retrata somente uma insatisfação dos torcedores do time com a cor ou estilo adotados; corresponde, sim, ao medo de serem “confundidos” com homos ou de se tornarem alvo de piadinhas last week vindas de torcedores adversários (algo que, claro, já está ocorrendo). A velha e deplorável homofobia. Um pouco de estudo e bom senso não faz mal a ninguém, então é só pensar: qual a relação entre uma COR e a SEXUALIDADE de uma pessoa, seja ela advogado, dentista, professor, jogador de futebol, torcedor? Cartinhas pra redação se você tiver a resposta.

É com muito desânimo, preguiça e ojeriza que penso num assunto como esse. Mas ele está aí, existe além da minha vontade. E me afeta diretamente. De qualquer forma, parabéns ao clube pela iniciativa. Num meio tão machista como o do futebol, não deixa de ser “louvável” uma atitude dessas. Dizer isso é brega e denuncia nossa situação de exclusão, mas é verdade.

Assim que fiquei sabendo da polêmica, logo lembrei de um time de rugby francês, o Stade Français (sim, rugby, um esporte certamente mais violento que o futebol e com jogadores muito mais “machos”). Esse time também adotou um uniforme ROSA, e quando digo ROSA quero dizer bem mais chamativo. Se existe mesmo aquele papo de quem sabe um dia a gente chega a ser uma sociedade desenvolvida de verdade, creio que a existência de um time de rugby que usa camisa, shorts e meias dessa cor é possivelmente o ápice da civilização. Viva a França, lá é o paraíso. E nós, amistosos brasileiros, como ficamos? Bem, separados por algumas tonalidades de rosa, temos o país e a sociedade que merecemos. Taí uma diferença cultural gritante, praticamente um abismo. Enquanto isso não se resolve, continuamos a nos preocupar com a cor do novo uniforme e a ver novela.

O rosa do Atlético (pode acreditar):

O rosa do Stade Français: