Todos querem um pouco de atenção. Não se sabe por qual motivo, mas isso não interessa nem nunca será importante. Olhar, ser olhado. Pegar, encostar, beijar, ser beijado. A gente roda, roda, roda, e no final do dia só quer uma coisa: ser visto como alguém único, mesmo sabendo que as diferenças entre nós são tão poucas.
Esse pensamento impregnava sua mente há vários anos, desde que terminou oficialmente seu último namoro. Por telefone. Mas tal pensamento parecia defasado. Não conseguia entender como dois homens que vão para a cama, e nela se dão tão bem, mal conseguem dizer algumas palavras de despedida, ou mesmo um ‘até breve’. Isso porque, todos os gays sabem, em algum momento antigos namorados-ficantes-fodas-ocasionais acabam se encontrando. Não importa o tamanho da cidade, a quantidade de bares e boates gays, tampouco o seu círculo de amigos.
Naquelas horas em que encontrava pessoas com as quais havia compartilhado a cama, irritava-se profundamente, possivelmente por medo de o outro cara pensar: ‘ainda bem que terminamos.’ E por incrível que pareça, ele próprio até tinha vontade de ir atrás do cara e conversar, ver como andava sua vida, marcar uma trepadinha sem compromisso; além disso era algo impossível. No entanto, sabia: comida requentada não é tão gostosa assim.
Encontrar alguém por acaso, especialmente um cara que já te fodeu ou deu pra você, é uma experiência inusitada. Coisa de gay moderno, pensava. Fingir que não conhece, uma habilidade a ser praticada. Quem sabe aos 60 anos tire isso de letra.
Então, voltando ao assunto da atenção, percebia que o jeito era mesmo se contentar com sua situação, e achar alguém com certo diferencial. A ética heterossexual da micareta era inversamente adotada por praticamente todos os gays freqüentadores de boates, bares, banheiros públicos e parques. Sem envolvimento afetivo, isso já tinha certeza. Trepar feito cachorro, ok. Beijo na boca, jamais. Quem sabe quando não houver mais nada a perder?