Tudo arrumado, limpo, cada coisa no seu lugar. Quem disse que organização é interessante?, gritava. Certas coisas precisam estar desorganizadas, fora do lugar, de cabeça pra baixo: só assim pensamos onde elas deveriam ficar, e fazemos os esforços pra colocá-las lá.
Organização beira o tédio; pessoas harmoniosas e belas são tediosas; se eu não fosse viado, pedia pra ser. Então vambora jogar tudo pro alto – o que pode ser jogado - , pedir mais uma porção de torresmo, contar outra piada sem graça, beijar a boca de quem achamos que gosta da gente. Um tapinha na cara pode quebrar a rotina. Seu espelho favorito te olha com um sorriso, deixa você confiante, mas não se engane. Você sabe, o inferno são os outros, então, das duas uma: chegue tocando fogo ou caia fora e deixe-os queimar sozinhos.
Vivemos por impulso, inércia. Um olhar, um beijo, uma palavra. Tudo deve convergir – em tese – para o futuro, adiante, ao horizonte! Não é possível, num mundo deste tamanho deve haver um lugar pra mim, pra nós. Sim, ele existe; vamos combinar de abrir os olhos juntos, ver o mais longe possível, aquela estrela que insiste em brilhar quando o dia já começou, o sorriso que te cumprimenta a metros de distância, a gargalhada que responde àquela piada sem graça contada ontem na mesa do bar diante da porção de torresmos. Ele nunca olhava fotos antigas, é muito deprimente. Dependendo de quem você é, de quem quer ser, esperar pelo dia seguinte pode ser a pior das torturas, relembrar o passado é reviver uma promessa. Não, isso eu não me permito. Piegas, cafona, elementar, a verdade vem fácil, é simples: só temos o presente. Passado e futuro não são. Então não vamos estressar, se isso não vai mudar agora e nem daqui a um milhão de anos... Na verdade, as pessoas livres são mais invejadas que as felizes, até hoje ninguém percebeu isso. Liberdade, definitivamente, dura mais que felicidade. Nossa única certeza: o tempo para ser é pouco, é raro, se desfaz em poucos segundos, na duração de um orgasmo. Passar o tempo vivido organizando as coisas não é uma boa, sei disso, dizia resignado. Viver sem porquês é mais agradável, ser impessoal consigo mesmo ameniza os problemas.
Sentado na privada de manhã, só de meias, lá fora um frio do cacete, lendo Céline: quero o que a vida me permitir, nem mais, nem menos. Sentado no banco da praça no final da tarde, inocente como uma criança, via ao longe três homens embaixo de umas árvores, fingindo esforço em fazer exercícios, na verdade preparando o terreno para mais uma noite de pegação e sexo livre. Aquele tá com cara de chupador, o outro faz a linha caí aqui de pára-quedas. Se eles assim o querem, então se fodam, no bom sentido.
E no final do dia era sempre bom voltar ao lugar de onde saiu, seu quarto, sua cama, o espelho amigo, a meia furada, o pijama manchado.
Organização beira o tédio; pessoas harmoniosas e belas são tediosas; se eu não fosse viado, pedia pra ser. Então vambora jogar tudo pro alto – o que pode ser jogado - , pedir mais uma porção de torresmo, contar outra piada sem graça, beijar a boca de quem achamos que gosta da gente. Um tapinha na cara pode quebrar a rotina. Seu espelho favorito te olha com um sorriso, deixa você confiante, mas não se engane. Você sabe, o inferno são os outros, então, das duas uma: chegue tocando fogo ou caia fora e deixe-os queimar sozinhos.
Vivemos por impulso, inércia. Um olhar, um beijo, uma palavra. Tudo deve convergir – em tese – para o futuro, adiante, ao horizonte! Não é possível, num mundo deste tamanho deve haver um lugar pra mim, pra nós. Sim, ele existe; vamos combinar de abrir os olhos juntos, ver o mais longe possível, aquela estrela que insiste em brilhar quando o dia já começou, o sorriso que te cumprimenta a metros de distância, a gargalhada que responde àquela piada sem graça contada ontem na mesa do bar diante da porção de torresmos. Ele nunca olhava fotos antigas, é muito deprimente. Dependendo de quem você é, de quem quer ser, esperar pelo dia seguinte pode ser a pior das torturas, relembrar o passado é reviver uma promessa. Não, isso eu não me permito. Piegas, cafona, elementar, a verdade vem fácil, é simples: só temos o presente. Passado e futuro não são. Então não vamos estressar, se isso não vai mudar agora e nem daqui a um milhão de anos... Na verdade, as pessoas livres são mais invejadas que as felizes, até hoje ninguém percebeu isso. Liberdade, definitivamente, dura mais que felicidade. Nossa única certeza: o tempo para ser é pouco, é raro, se desfaz em poucos segundos, na duração de um orgasmo. Passar o tempo vivido organizando as coisas não é uma boa, sei disso, dizia resignado. Viver sem porquês é mais agradável, ser impessoal consigo mesmo ameniza os problemas.
Sentado na privada de manhã, só de meias, lá fora um frio do cacete, lendo Céline: quero o que a vida me permitir, nem mais, nem menos. Sentado no banco da praça no final da tarde, inocente como uma criança, via ao longe três homens embaixo de umas árvores, fingindo esforço em fazer exercícios, na verdade preparando o terreno para mais uma noite de pegação e sexo livre. Aquele tá com cara de chupador, o outro faz a linha caí aqui de pára-quedas. Se eles assim o querem, então se fodam, no bom sentido.
E no final do dia era sempre bom voltar ao lugar de onde saiu, seu quarto, sua cama, o espelho amigo, a meia furada, o pijama manchado.